19 de dezembro de 2019

Dados do Censo GIFE 2018 refletem nova estratégia de atuação do Instituto Alcoa

Educação, geração de trabalho e renda e desenvolvimento comunitário estão entre os principais temas do setor, segundo a pesquisa.

ALUMAR_Anselmo Queiroz_ ACTION_ 20.07.18

Em 2018, 133 institutos, fundações e empresas investiram juntos 3,25 bilhões de reais. O dado é da nova edição do Censo GIFE, lançada em novembro. Produzido desde 2001, o estudo fornece um panorama sobre estrutura, formas de atuação, estratégias e tendências na prática dos investidores sociais brasileiros a partir de dados das instituições associadas ao GIFE, fomentando, dessa forma, o aprimoramento da atuação das instituições e apontando caminhos para o fortalecimento e a qualificação do campo no Brasil.

Seguindo uma tendência histórica, educação segue sendo a principal área de atuação dos investidores sociais (80%). Mais da metade das organizações indicaram também as áreas de trabalho, empreendedorismo e geração de renda (66%) e desenvolvimento local, territorial, comunitário e/ou de base (54%).

A tendência se materializa na decisão do Instituto Alcoa, que, em 2018, entendeu que deveria ampliar o impacto positivo nas comunidades em que atua e se propôs a um longo processo de diagnóstico e planejamento, realizado a partir de uma escuta ativa e colaborativa com seus diferentes stakeholders.

O trabalho resultou em uma teoria de mudança que apontou caminhos e oportunidades em causas estruturantes para o desenvolvimento de uma sociedade mais justa. Assim, o Instituto passou a focar energias e investimentos em iniciativas que visem ampliar o acesso à educação de qualidade, com foco no Ensino Fundamental; na geração de trabalho e renda; e em uma maior participação e engajamento da sociedade nos territórios onde a Alcoa está presente: Juruti (PA), Poços de Caldas (MG) e São Luís (MA).

A decisão contempla a vontade de atender a demandas socioambientais cada vez mais complexas em uma sociedade em permanente transformação. Às vésperas de completar 30 anos de trajetória, a nova estratégia de atuação busca um impacto mais significativo e alinhado a políticas públicas e agendas globais como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

“Entendemos que somos parte de uma comunidade que precisa atuar coletivamente, compartilhando valores e saberes. Nosso objetivo é ajudar a tornar os municípios de Juruti, Poços de Caldas e São Luís, bem como seus entornos, em territórios cada vez mais inclusivos e menos desiguais”, afirma Fausto Cruz, presidente do Instituto Alcoa.

Por que educação?

Vista como um dos pilares da agenda pública no Brasil e no mundo, a educação é um fator central para o desenvolvimento social e a diminuição das desigualdades. No Brasil, a Educação Básica – que abrange as etapas da Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio – ainda tem desafios importantes de melhoria de qualidade, acesso e gestão.

Segundo dados da Pesquisa Anual por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-Contínua) divulgados este ano, a educação brasileira continua longe de ser para todos. Coletados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2018, os dados pintam o retrato de um sistema público que, mesmo perto de universalizar o atendimento no Ensino Fundamental, ainda não foi capaz de atender às necessidades educacionais de brasileiros de todas as idades: 40% das pessoas com mais de 25 anos não chegaram a concluir essa etapa da Educação Básica. Além disso, 30,7% dos alunos do Ensino Médio estavam defasados na relação idade/série ou fora da escola.

Outro ponto de destaque diz respeito ao analfabetismo. No ano passado, havia 11,3 milhões de pessoas com 15 anos ou mais ainda não alfabetizadas, o que corresponde a 6,8% dessa faixa. Quanto mais velha a população, maior o índice de analfabetismo.

Embora seja uma preocupação central entre os investidores sociais privados, sendo crianças e adolescentes os principais perfis do público a quem se destinam os investimentos, os dados do Censo GIFE 2018 revelam que ainda é pequeno o foco em perfis por gênero e raça e grande a concentração dos projetos na região Sudeste.

Alinhado ao ODS 4: “Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos”, o Instituto Alcoa escolheu o Ensino Fundamental como foco de seu trabalho nos três territórios em que atua: Juruti, Poços de Caldas e São Luís.

Fortalecer o diálogo entre educação e transformação social por meio de ações em que educadores, alunos e comunidades assumem o protagonismo é a premissa que rege o programa ECOA, uma das principais iniciativas do Instituto nessa frente. A ação fomenta a participação comunitária na construção de sociedades sustentáveis por meio de processos de educação socioambiental. A ideia é fortalecer a cultura de sustentabilidade escolar nos municípios a partir da capacitação de educadores e acompanhamento constante de suas atividades.

Em 2019, o Ciclo II do Programa ECOA entrou em seu terceiro ano de atividades com as 15 escolas participantes nos três municípios de atuação do Instituto Alcoa. Orientadas pelo método da Aprendizagem Baseada em Projetos, as escolas aprofundaram o conhecimento sobre seus territórios em diagnósticos socioambientais e, observando as demandas e potencialidades comunitárias, co-criaram e executaram projetos de intervenção locais.

Iniciado em 2014, o ECOA já contabiliza a participação de 49 escolas, mais de 58 mil estudantes e 733 professores, realizando mais de 290 projetos, tais como hortas, bibliotecas comunitárias, parquinhos, mutirões de limpeza e campanhas públicas de conscientização ambiental.

A partir do próximo ano, o Programa ECOA inaugura um novo formato, com ênfase nas disciplinas de Português e Matemática e reforço em gestão.

O programa é implementado em parceria com as secretarias de educação dos três municípios. Monica Espadaro, gerente de projetos do Instituto Alcoa e coordenadora do Programa ECOA, acredita que essa parceria torna os resultados da iniciativa mais efetivos. “Os dados do Ensino Fundamental dos municípios em que atuamos mostram que ainda temos desafios a vencer e estamos construindo soluções em conjunto com a gestão pública e a sociedade civil.”

Por que trabalho e renda?

Os desafios diante das desigualdades de renda no país ainda são latentes e, portanto, atuar nessa frente se apresenta como uma demanda real e concreta da sociedade brasileira, a fim de minimizar diversas outras desigualdades, em busca de mais qualidade de vida para a população.

Segundo o IBGE, a taxa de desemprego do Brasil fechou o terceiro trimestre em 11,8%, com aumento no número de pessoas ocupadas, porém em um mercado de trabalho marcado por novo recorde de informalidade. São 12,5 milhões de desempregados, 11,8 milhões de pessoas empregadas sem carteira e 24,4 milhões de trabalhadores por conta própria.

Dados divulgados em outubro deste ano apontam que a concentração de renda voltou a piorar – o índice que mede a concentração e a desigualdade de renda foi o maior da série histórica iniciada em 2012. Os números do IBGE também mostram que o rendimento médio do grupo de 1% mais ricos do país cresceu 8,4% em 2018, enquanto o dos 5% mais pobres caiu 3,2%. Com o resultado, a renda da elite econômica do país corresponde a 33,8 vezes o rendimento dos 50% que integram a população de menor rendimento.

Não à toa, o tema da Geração de Trabalho e Renda é dedicado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 8: “Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos”. Já o ODS 10, ao qual se alinha a estratégia de atuação do Instituto Alcoa, busca “Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles”.

Nesse sentido, encontrar caminhos de inserção laboral para a população e incentivar o empreendedorismo são atitudes fundamentais para o desenvolvimento social de um território. Em resposta a essa demanda, este ano, o Instituto Alcoa destinou 60% dos investimentos do Programa de Apoio a Projetos Locais para a temática. São R$ 1.089.961,65 em projetos na área de Geração de Trabalho e Renda nos municípios de Juruti, Poços de Caldas, Andradas (MG), Divinolândia (SP) e São Luís.

Os outros 40% (R$ 720.604,38) foram destinados a iniciativas na área da Educação. No total, mais de R$ 1,8 milhão foram investidos em 16 projetos.

Monica observa que o Programa de Apoio a Projetos Locais também é uma oportunidade de construir relações de confiança com organizações da sociedade civil e com as comunidades.

“Os projetos apoiados em 2019 têm potencial de beneficiar cerca de 7.000 pessoas. Esperamos que esse número cresça ainda mais e que possamos contribuir com a melhoria dos índices educacionais e com a diminuição das desigualdades nos municípios, de forma a contribuir positivamente para a melhoria dos territórios em que atuamos.”

Por que engajamento?

A participação social é fundamental para o desenvolvimento sustentável do território e para que as políticas públicas sejam efetivadas.

Para a concretização de todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o ODS 17, que aponta justamente para a necessidade de parcerias e articulações.

Ao atuar colaborativamente nas iniciativas, a comunidade tem a possibilidade de colocar suas expertises e conhecimentos mais presentes, garantindo que as ações tenham ainda mais credibilidade e legitimidade ao longo do tempo.

Pensando nisso, em maio e agosto deste ano foram realizadas duas rodadas de oficinas com as equipes líderes de Relações Comunitárias e representantes dos Conselhos Consultivos de Juruti, Poços de Caldas e São Luís para apresentação da nova estratégia do Instituto Alcoa e mobilização para ações estruturantes nos municípios.

A ação resultou no Plano de Ação de cada localidade, que contempla iniciativas de curto, médio e longo prazo para responder às demandas nas frentes de educação e geração de trabalho e renda.

Um dos destaques foi a ação integrada realizada no mote das provas do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), aplicadas de 21 de outubro a 1º de novembro a fim de avaliar estudantes, professores, diretores e dirigentes da rede pública de ensino de todo o país.

Entre setembro e outubro deste ano, os três municípios mobilizaram as comunidades escolares com o objetivo de prepará-las para os testes, a fim de contribuir com a melhoria dos resultados dos territórios, bem como ampliar o entendimento e o engajamento de todos os setores acerca da importância da melhoria da qualidade da educação.

Tanto as secretarias municipais de educação, quanto as escolas, além de funcionários e voluntários da Alcoa e toda a comunidade nos três territórios foram convidados e incentivados a se envolver com a causa. As intervenções contemplaram desde atividades de capacitação de voluntários e rodas de conversa nas escolas, organizações locais, secretarias e empresas até ações de comunicação e engajamento como produção de peças de comunicação, mobilização nas redes sociais, distribuição de materiais impressos e fixação de cartazes, ações de engajamento com as equipes das secretarias, entre outras.

“A participação e o engajamento das comunidades nas causas do Instituto Alcoa são fundamentais para que os impactos possam ser mais efetivos e a transformação que buscamos nos territórios aconteça”, observa Tatiana Bizzi, gerente de programas do Instituto Alcoa.